sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O erro da ambição

Sempre fui ambiciosa. Muito ambiciosa. Não há nada que não tenha querido, que não tenha conseguido. É uma característica reconhecida por quem me conhece. A minha ambição nunca foi uma ambição devastadora. Nunca passei por cima de ninguém, nunca prejudiquei ninguém para conseguir os meus objectivos. Mas sempre lutei por aquilo que queria. Sempre.

Há 8 anos que trabalho na mesma empresa. Mas os últimos 3 anos foram muito diferentes.

No início tinha orgulho, enchia o peito para falar sobre a minha empresa. Ostentava durante todo o dia (até durante a hora do almoço) o meu cartão de colaboradora pendurado numa fita como se fosse a medalha de ouro do jogos olímpicos.

Gostava imenso de trabalhar. Gostava do que fazia. Dava o litro. Dava o que tinha e o que não tinha. Prejudiquei muitas vezes - já não tenho dúvidas disso - a minha vida pessoal para poder dedicar-me ao trabalho. Sempre achei que o esforço seria valorizado. Reconhecido. E até foi. Não me faltaram palmadinhas nas costas e elogios. Não me faltaram "disputas" de chefias para trabalhar comigo. Convites para mudar. Isso alimentava o meu ego e fazia-me querer trabalhar mais e mais. Fui subindo, não muito, é certo, na hierarquia. Maiores responsabilidades, mais pessoas sob a minha coordenação. Vi e vivi de tudo um pouco. Conheci pessoas fantásticas, mas também conheci pessoas deploráveis.

Noites por dormir, fins-de-semana não existiam, festas de família nem vê-las, amigos deixaram de existir. Tudo era sempre muito menos importante do que o meu trabalho. Adormecia com o telemóvel e o portátil ao lado da almofada. Literalmente.

A verdade é que financeiramente nunca vi nem mais 1 cêntimo por isso. Quanto mais fazia, mais pediam, mais queriam que eu fizesse. E eu, tal como o burro atrás da cenoura, esticava mais um pouco a corda porque afinal devia estar mesmo mesmo quase.

Apesar das centenas de avisos de familiares e amigos, eu continuei. Sem parar. E tinha energia, muita energia. Trabalhava com gosto, com vontade. E consegui promover algumas mudanças importantes.

Naturalmente, ao fim de 2 anos neste ritmo o cansaço começou a dar sinal. A energia e a alegria iniciais começaram a dar lugar a um cenário de frustração, tristeza, angústia. Fui obrigada a abrandar. Esse abrandamento teve consequências porque já não podia ter tanta disponibilidade para o trabalho. Nessa altura, os donos das palmadinhas começaram a torcer o nariz. Estavam habituados a uma atitude totalmente diferente. Já não era a mesma A. e a pressão para continuar a fazer mais e mais, obrigou-me a procurar alternativas. Felizmente, surgiu um novo convite de alguém que há muito queria trabalhar comigo. Continuei na mesma empresa mas mudei de área.

Fiz bem, mas já não é a mesma coisa. Sinto que aquele esforço destruiu parte dos meus sonhos, das minhas crenças.

Hoje é tudo bastante diferente. Mesmo muito diferente.

Gostava de acordar de manhã com energia para trabalhar. Com vontade de chegar e marcar a diferença. Mas não. Estou desanimada e desiludida com o meu trabalho. Cada vez cresce mais a certeza dentro de mim que não é aquilo que eu quero. Que não me preenche, não me satisfaz. Que as guerrinhas e coisas que tal não levam a lado nenhum.

Não estou a reclamar de ter trabalho. Seria uma heresia num país onde a taxa de desemprego é elavadíssima. Mas quando olho a minha volta e o que vejo é tudo menos a meritocracia, perde-se todo o entusiasmo.

Olho para os lados a procura de alternativas mas o medo de arriscar numa altura destas tem me fazido pensar mais do que devia. E no meio destes pensamentos dou consentimento ao meu conformismo para avançar. Pelo menos para já.

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