quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Simplesmente Laura

Conheci a D. Laura, tinha eu os meus 23 - 24 anos. E apaixonei-me infinitamente por aquela pessoa. Ela representava tudo o que eu queria ser quando chegasse aos 30. Embora ela na altura já tivesse 40 e tais. Aquela mulher era de uma beleza tal que deixava toda gente encantada.

A D.Laura era uma mulher elegante, cheia de charme, suave, tranquila, ou pelo menos aparentava ser. Estava sempre bonita, arranjada, tinha um perfume inebriante, um humor incrível, os cabelos compridos, um sorriso lindo. Já tinha passado por alguns momentos menos bons na vida, mas não dava parte fraca. Nunca deu. E mantinha sempre a postura. Nunca lhe vi uma lágrima.

Apesar da doçura com que falava, não era uma mulher que se entregasse facilmente aos afectos, ou pelo menos eu não soube como lá chegar. Não era de abraços e beijos, de apertar, de agarrar. Mas sabia sempre mostrar quando estava de acordo e quando reprovava. Apenas se entregava sem medidas aos 2 gatos que tinha: o Melga e o Pequenino. Com eles não tinha limites e era ela no seu estado mais puro. Sem reservas. E eu gostava (tanto) de observá-la nesses momentos.

Lembro-me de lhe dizer que gostava de chegar rapidamente aos 30 anos. Que achava que as mulheres de 30 tinham outro encanto. Na verdade eu tinha a ideia que quando chegasse aos 30 seria como ela. Fazia de tudo para me parecer com ela, para ter os mesmos jeitos, a mesma forma de ser.

Admirava-a tanto, que sempre disse que se um dia tivesse uma filha, ela teria de se chamar Laura.

A D. Laura é a mãe de um ex-namorado meu. E quando ao fim de quase 4 anos acabámos, na verdade o que mais me custou, foi perder o convívio com ela. Porque sabia que não seria possível manter o contacto diário que tinha, que não seria possível ouvi-la, conversar com ela, aprender a ser Mulher.

Mesmo depois de passarem uns largos meses de ter terminado o namoro, eu ainda atendia o telefone da mesma forma que ela fazia, ainda tentava maquilhar-me com a mesma elegância com que ela fazia, ainda tentava ser tranquila como ela.

Confesso que tenho saudades e muitas vezes lembro-me dela. Ultimamente, mais propriamente, desde o Natal, tem sido uma constante lembrar-me dela. Até já tive vontade de voltar a falar-lhe, mas já passaram mais de 8 anos. Acho que não faz sentido.

Mas hoje finalmente percebi a razão. Porque a minha chefe começou a usar o mesmo perfume que a D. Laura usava. Esse perfume está gravado na minha memória e totalmente associado a ela. E era isso. Era esse perfume que fazia com que as minhas memórias estivessem tão vivas e a lembrança tão presente.

Hoje já estou na casa dos 30. Sinto-me muito melhor do que quando estava na casa dos 20. Sinto que sim, que de facto melhorei como pessoa e até fisicamente. Acho que é caso para dizer, que a idade fez-me bem. Mas também sei que ainda estou muito longe de ser como a D.Laura. Quem sabe quando chegar aos 40.

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